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faixa Deus é amor

É chegada a hora de se encerrar a crueldade na Terra, tempo de todos os filhos de Deus unirem-se
num mesmo afeto,
num mesmo caminho e de mãos maiores auxiliarem pequenas mãos, pequenas patas, pequenos pés.

São tempos de esquecermos o corpo e vermos o espírito, esquecermos as diferenças evolutivas e vivenciarmos o amor, pois é esta a vontade de Deus, uma vez que Deus é o amor puro,
em todas as suas formas ♥

 

Zélio Fernandino de Moraes

Zélio Fernandino de Moraes é um nome a ser reverenciado a todos os adeptos e simpatizantes
da nossa abençoada religião. Assim como Alan Kardec foi um dos intermediários escolhidos pela Espiritualidade para divulgar o espiritismo, Pai Zélio foi amorosamente selecionado para revelar
ao Brasil e ao mundo a formação de uma nova religião: a Umbanda.

Zélio nasceu aos dez dias do mês de abril de 1891, no distrito de Neves, município de São Gonçalo - Rio de Janeiro. Os sinais de seu chamado pela espiritualidade começou quando ele tinha dezessete anos, em 1908. Nesta época, ele estava se preparando para servir as Forças Armadas através da Marinha, sendo um jovem de família tradicionalmente católica que seguia a sua fé de acordo com os costumes da época. Contudo, por vezes, ele começou a adotar certas atitudes que causavam estranheza aos que estavam ao seu redor. Ora se posicionava como um idoso de linguajar simplório, tom manso, ministrando ervas e remédios naturais, ora aparentava muita agilidade e vigor, mas com alteração de seu sotaque.

Essas mudanças de comportamento causaram extrema preocupação nos familiares que,
assustados, iniciaram a sua via sacra em busca de auxílio a ele,
julgando que ele estivesse acometido por alguma doença mental.

A família o conduziu ao psiquiatra e diretor do Hospício de Vargem Grande, sendo que o
Dr. Epaminondas de Moraes (tio de Zélio), após realizar vários exames nos dias que se estenderam, não encontrou algo parecido com o que ele apresentava em toda literatura médica. Não havendo mais o que ele pudesse fazer para ajudar o Zélio, e pensando ser um raro caso de possessão demoníaca, sugeriu aos familiares que o levassem a um padre católico para a realização de
um exorcismo.
Zélio foi levado aos sacerdotes da Igreja Católica, após realizarem três exorcismos, os “ataques” continuaram, deixando a todos muito consternados.
Os sacerdotes o enviaram de volta a sua casa, informando aos seus familiares que os ataques de Zélio não tinham origem demoníaca.

Depois de algum tempo, outro fenômeno estranho ocorreu: Zélio foi acometido por uma paralisia parcial, cujos médicos não encontram explicação e também não lograram êxito no tratamento.
Certo dia, ao acordar em seu leito, Zélio disse: - “Amanhã estarei curado!”
E, de fato, no dia seguinte, ele começou a andar
como se nada tivesse acontecido, sem que houvesse em seu corpo qualquer atrofiamento muscular, como é típico em alguém que fica muito tempo deitado.
Novamente, não houve explicação que pudesse ser relatada pelos médicos.

Sua mãe, D. Leonor de Moraes, levou Zélio a uma curandeira chamada D. Cândida, figura conhecida na região onde morava e que incorporava o espírito de um Preto-Velho chamado Tio Antônio que, depois de fazer as suas rezas ao rapaz, disse-lhe que possuía o fenômeno da mediunidade e deveria trabalhar procurar um centro espírita para trabalhar com a caridade.

O Pai de Zélio de Moraes, Sr. Joaquim Fernandino Costa, apesar de não frequentar um centro espírita, já era um praticante do hábito da leitura de literatura espírita. No dia 15 de novembro de 1908, por sugestão de um amigo de seu pai, Zélio foi levado a Federação Espírita de Niterói,
cidade vizinha a São Gonçalo das Neles, onde residiam.

A Federação era presidida pelo Senhor José de Sousa, chefe de um departamento da Marinha
chamado Toque Toque, o que deixou a família de Zélio mais confortável, pois sabia tratar-se
de alguém de reputação ilibada.  Ali mesmo, na Federação, Zélio de Moraes agitou-se
e teve outro de seus “ataques” que os familiares tanto temiam.
O presidente, através da clarividência, logo percebeu que se tratava do fenômeno da
incorporação involuntária, já que o médium não tinha controle consciente sobre o fenômeno.

O Sr. Souza convidou Zélio a sentar-se à mesa e, logo após se sentar,
contrariando as normas do ritual ali realizado, Zélio levantou-se e disse que ali faltava uma flor:
foi até o jardim apanhou uma rosa branca
e
a colocou no centro da mesa onde realizava-se o trabalho.
Tal iniciativa contrariou todas as normas da instituição o que causou certo tumulto e discussão.
Após os ânimos se acalmarem, Zélio foi “tomado” por uma entidade e, simultaneamente, alguns médiuns presentes apresentaram incorporações de Caboclos e Pretos Velhos.
O presidente José de Souza, então, advertiu a todos de que não poderiam permanecer ali.

O espírito incorporado em Zélio, perguntou:
- "Por que repelem a presença dos citados espíritos,
se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens? Seria por causa de suas origens sociais e da cor?"

Após o clarividente ver a luz que esse espírito irradiava perguntou:
- “Quem é você que ocupa o corpo deste jovem?”

O espírito respondeu: - “Eu? Eu sou apenas um Caboclo brasileiro.”

- "Por que o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados, são claramente atrasados? E por que fala deste modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um Jesuíta com veste clerical branca
que reflete uma aura de luz? E qual o seu nome, meu irmão?"

O espírito: - “O que você vê em mim são restos de uma existência anterior.
Fui padre, meu nome era Gabriel Malagrida. Acusado de bruxaria, fui sacrificado na fogueira
da inquisição por haver previsto o terremoto que destruiu Lisboa em 1755. Mas em minha última
existência física, Deus concedeu-me o privilégio de nascer como um Caboclo brasileiro.”

Senhor José: - "Porque o irmão fala nesses termos pretendendo que esta mesa aceite a manifestação
de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados, são claramente atrasados?
E qual é o seu nome, irmão?"

O espírito: - “Se julgam atrasados esses espíritos dos Pretos e dos Índios, devo dizer que amanhã estarei na casa deste aparelho (o médium Zélio) para dar início a um culto em que esses Pretos e esses Índios poderão dar a sua mensagem, e assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos encarnados e desencarnados. E se querem saber o meu nome, que seja este: ‘Caboclo das Sete Encruzilhadas’
porque não haverá caminhos fechados para mim. Venho trazer a Umbanda,
uma religião que harmonizará as famílias e que há de perdurar até o final dos séculos.”

Senhor José:  - “Julga, o irmão, que alguém irá assistir ao seu culto?”

O espírito:  - “Cada colina de Niterói atuará como porta-voz anunciando a religião que amanhã iniciarei.”

No desenrolar da conversa, o senhor José perguntou se já não existiam religiões suficientes,
fazendo inclusive menção ao espiritismo.

O espírito: - “Deus, em sua infinita bondade, estabeleceu na morte, o grande nivelador universal. Rico ou pobre, poderoso ou humilde, todos tornam-se iguais na morte. Mas vocês, homens preconceituosos, não contentes em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar estas mesmas diferenças até mesmo além da barreira da morte. Por que não podem nos visitar estes humildes trabalhadores do espaço se, apesar de não haverem sido pessoas importantes na Terra, também trazem importantes mensagens do além? Porque o não aos Caboclos e Pretos Velhos? Acaso não foram eles também filhos do mesmo Deus? Amanhã, na casa onde meu aparelho mora haverá uma mesa posta a toda e qualquer entidade que queira ou precise se manifestar. Independente daquilo que haja sido em vida, todos serão ouvidos.”

Nas palavras de Zélio, no dia posterior (16 de novembro de 1908) ocorreu o seguinte:
- “Minha família estava apavorada, eu mesmo não sabia explicar o que se passava comigo.
Surpreendia-me haver dialogado com aqueles austeros senhores de cabeça branca,
em volta de uma mesa onde se praticava um trabalho desconhecido para mim.
Como poderia, aos dezessete anos, organizar uma religião?
No entanto, eu mesmo falara, sem saber o que dizia e por que dizia.
Era uma sensação estranha: uma força superior que me impelia a fazer
e a dizer o que nem sequer passava pelo meu pensamento.
E, no dia seguinte em casa de minha família, na Rua Floriano Peixoto, 30, em Neves,
ao se aproximar a hora marcada, 20 horas, já se reuniam os membros da Federação Espírita,
seguramente para comprovar a veracidade dos fatos que foram declarados na véspera,
os parentes mais chegados, amigos, vizinhos e, do lado de fora, grande número de desconhecidos.”

E, como Zélio relatou, naquele dia, em sua casa, no distrito de Neves, município de São Gonçalo/RJ, na presença de todas aquelas pessoas acima mencionadas, pontualmente às 20:00 horas,
o Caboclo das Sete Encruzilhadas desceu e usando as seguintes palavras, iniciou o ritual:

"- Vim para fundar a Umbanda no Brasil, aqui inicia-se uma nova religião em que os espíritos de Pretos Velhos africanos que haviam sido escravos e os Índios nativos de nossa terra poderão trabalhar em benefício dos seus irmãos encarnados, qualquer que seja a cor, raça, credo ou posição social. A prática da caridade no sentido do amor fraterno será a característica principal deste culto,
que tem base no Evangelho de Jesus e como mestre supremo Cristo."

Após estabelecer as normas que seriam utilizadas na religião, com sessões diárias das 20:00 às 22:00 horas, determinou que os participantes deveriam estar vestidos de branco e o atendimento
a todos seria gratuito. O fato de se ter fundado a Umbanda numa sexta-feira fez com que até hoje, tradicionalmente, a maioria dos terreiros trabalhem neste dia. O grupo que acabara de ser fundado recebeu o nome de Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade
e o Caboclo das Sete Encruzilhadas disse as seguintes palavras:

- “Assim como Maria acolhe em seus braços o Filho, a Tenda acolherá aos que a ela recorrerem nas horas de aflição; todas as entidades serão ouvidas: nós aprenderemos com aqueles espíritos que souberem mais e ensinaremos àqueles que souberem menos e a nenhum viraremos as costas, pois esta é a vontade do Pai!"

Ainda respondeu às perguntas dos sacerdotes que ali se encontravam, em latim e alemão. O Caboclo atendeu a um paralítico, fazendo este ficar curado; atendeu outras pessoas que havia neste local, orientando-os através de seus ensinamentos.

Após a “subida” do Caboclo, manifestou-se um Preto Velho chamado Pai Antônio. Com sua fala mansa, palavras de muita sabedoria e humildade, recusava-se a sentar-se junto com os presentes à mesa, dizendo as seguintes palavras:

"- Nêgo num senta não, meu sinhô, isso é coisa de sinhô branco e nêgo deve arrespeitá.
Nêgo fica no toco, que é lugá di nêgo. "

Assim, continuou dizendo outras palavras com mansidão, representando a sua humildade.
Uma pessoa na reunião perguntou se ele sentia falta de alguma coisa que tinha deixado na terra e ele respondeu:

- “Minha caximba. Nêgo qué o pito que deixou no toco, manda mureque busca."

Esta frase originou o ponto cantado com este texto. No dia seguinte, todos trouxeram cachimbos para o Preto-Velho, sendo a solicitação do primeiro elemento material de trabalho dentro da Umbanda. Foi Pai Antônio também a primeira entidade a solicitar uma guia até hoje usadas pelos membros da Tenda e carinhosamente chamada de "Guia de Pai Antônio".  Em suas sessões, todos trabalhavam com os pés descalços, não utilizavam atabaques, nem quaisquer outros objetos e adereços, como cocares ou capas. Os atabaques começaram a ser usados com o passar do tempo por algumas das Tendas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, mas nunca na Tenda Nossa Senhora da Piedade.

 O pai de Zélio frequentemente era abordado por pessoas que queriam saber como ele aceitava tudo isso que vinha acontecendo em sua residência. Sua resposta era sempre a mesma, em tom de brincadeira, respondia que preferia um filho médium em lugar de um filho louco. Foi um trabalho árduo e incessante para o esclarecimento, difusão e sedimentação da Umbanda.

Como naquela época havia muito feitiçaria, pessoas que trabalhavam com o intuito de fazer maldades, em 1913, Zélio passou a trabalhar também com um Orixá de nome Mallet (Malé), da linha de Ogum, espírito do Oriente, entidade esta que tinha grande experiência no desmanche de trabalhos de baixa magia. Sabe-se que Mallet era um espírito que exauria as forças do franzino corpo de seu médium. Falava pouco, quase somente por gestos ou era Pai Antônio quem trazia as suas ordens e os seus ensinamentos nos trabalhos de demanda e estabelecimento de disciplina. O ritual obrigatório para elaboração da comida de Ogum foi trazido por Mallet, que seria o sarapatel feito com os miúdos de um porco castrado. Por vezes, ele trabalhava com animais em seus trabalhos, mas sempre os mantinha vivos. De um temperamento forte, quando em demanda era agitado e sábio, destruindo as energias maléficas dos que lhe procuravam. Ele tanto podia promover materializações de borboletas,
proteger pombas, como atirar pedras em médiuns.

João Severino Ramos, ao fazer sua primeira visita a Zélio em Cachoeiras de Macacu,
se mostrava cético e incrédulo, pedindo provas para crer nas cenas que estava presenciando.
Naquele instante, Orixá Mallet pegou uma pedra à beira do rio e acertou bem no meio da testa
de Severino que caiu dentro das águas. A entidade proibiu os amigos de socorrê-lo e pediu que aguardassem a sua ordem. Minutos depois, Severino atravessou as margens do Rio Macacu
já incorporado por Ogun Timbiri, com quem passaria a trabalhar dali por diante.

Mais tarde, Zélio também incorporou um espírito chamado Marabô.
Em seus últimos dias vivente em nossas terras, perguntado por uma jornalista sobre os trabalhos com os Exus, Zélio respondeu:

- “O trabalho com os Exus requer muito cuidado. É fácil ao mau médium dar manifestação como Exu e ser, na realidade, um espírito atrasado, como acontece, também, na incorporação da Criança. Considero o Exu um espírito que foi despertado das trevas e, progredindo na escala evolutiva, trabalha em benefício dos necessitados. O Caboclo das Sete Encruzilhadas ensinava que Exu é, como na polícia, o soldado. O chefe de polícia não prende o malfeitor; o delegado também não o prende, quem prende é o soldado que executa as ordens dos chefes.  E o Exu é um espírito que se prontifica a fazer o bem porque, a cada passo que dá em benefício de alguém, é mais uma luz que adquire para si. Atrair o espírito atrasado que estiver obsedando e afastá-lo é um dos seus trabalhos. E é assim que vai evoluindo.  Torna-se, portanto, um auxiliar do Orixá.”

Dez anos após a fundação da Tenda Nossa Senhora da Piedade (registrada como Tenda Espírita, por não poder ser feito o registro de uma entidade com especificação de Umbanda), em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas declarou que iria iniciar a segunda parte da sua missão: a fundação de outras sete Tendas criadas a partir do corpo mediúnico da Tenda da Piedade: (1918) Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, (1927) Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia, (1933) Tenda Espírita Santa Bárbara, (1935) Tenda Espírita São Pedro, Tenda Espírita São Jorge, Tenda Espírita São Jerônimo e (1939) Tenda Espírita Oxalá, algumas delas ainda hoje em funcionamento.

Fato interessante ocorreu no tocante à criação da Tenda Espírita São Jerônimo (a Casa de Xangô): ainda faltava apontar o dirigente adequado para a sua formação quando, numa noite de quinta-feira, José Alvares Pessoa, espírita e estudioso de todos os ramos do espiritualismo, não dando muito crédito ao que lhe relatavam sobre as maravilhas ocorridas em Neves, resolveu verificar pessoalmente o que se passava. Logo que entrou na sala, o Caboclo das Sete Encruzilhadas interrompeu a palestra e disse:

- "Já podemos fundar a Tenda São Jerônimo e seu dirigente acaba de chegar."

O senhor Pessoa ficou muito surpreso, pois era desconhecido no ambiente e não anunciara a sua visita. Viera apenas verificar a veracidade do que lhe narravam. Após breve diálogo, em que o Caboclo das Sete Encruzilhadas demonstrou conhecer a fundo o visitante, José Alvares Pessoa assumiu a responsabilidade de dirigir o Templo que a entidade determinou.

Enquanto Zélio estava encarnado, foram fundadas mais de 10.000 Tendas a partir das acima mencionadas. Zélio nunca usou como profissão a mediunidade, sempre trabalhou para sustentar a sua família e, muitas vezes, também para manter os Templos que o Caboclo fundou. Com o seu coração generoso, e por determinação das entidades, por vezes Zélio recolhia os enfermos mais necessitados em sua residência até o término do tratamento astral. E, muitas vezes, as filhas, Zélia e Zilméa, crianças ainda, cediam o seu aposento e dormiam em esteiras, para que os doentes ficassem bem acomodados.

Em 1939, o Caboclo das Sete Encruzilhadas determinou a fundação de uma Federação (posteriormente denominada de União Espírita de Umbanda do Brasil, segundo relata Seleções de Umbanda n.º 7 1975) para congregar Templos Umbandistas e ser o núcleo central da nossa abençoada religião, no qual o simples uniforme branco de algodão dos médiuns estabeleceria a igualdade de classes
e a simplicidade permitida pelo ritual.

A partir da década de 1940, iniciaram-se as atividades da Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade na cidade do Rio de Janeiro, tendo passado por vários endereços. Curiosamente, todas as sedes pelas quais a Tenda da Piedade já passou, foram demolidas.

Após 55 anos de atividades, Zélio entregou a direção dos trabalhos da Tenda à sua filha Zélia de Moraes Lacerda e, depois, à Zilméa Moraes da Cunha. Mais tarde, junto com a sua esposa Maria Elizabete de Moraes (médium ativa da Tenda e aparelho do Caboclo Roxo), fundou a Cabana de Pai Antônio, no distrito de Boca do Mato, município de Cachoeiras do Macacu/RJ. Eles dirigiram os trabalhos
enquanto a saúde de Zélio permitiu.

Nesta época em que eram mais raras as incorporações em Pai Zélio, o Caboclo das Sete Encruzilhadas deixou claro que não mais incorporaria em outro médium, nem em outro local, senão no que havia criado. Disse que dali em diante só se manifestaria em datas especiais. E assim o fez, como no 63º aniversário da tenda Nossa Senhora da Piedade, em que transcrevo
o trecho final da sua belíssima mensagem que foi gravada:

"A Umbanda tem progredido e vai progredir muito ainda.
É preciso haver sinceridade, amor de irmão para irmão,
para que a vil moeda não venha a destruir o médium, que será mais tarde expulso,
como Jesus expulsou os vendilhões do Templo.
É preciso estar sempre de prevenção contra os obsessores, que podem atingir o médium.
É preciso ter cuidado e haver moral para que a Umbanda progrida e seja sempre uma Umbanda
de humildade, amor e caridade. Essa é a nossa bandeira.
Meus irmãos: sede humildes, trazei amor no coração para que, pela vossa mediunidade,
 possa baixar um espírito superior; sempre afinado com a virtude que Jesus pregou na Terra,
para que venha buscar socorro em vossas casas de caridade, todo o Brasil...
Tenho uma coisa a vos pedir: 
se Jesus veio ao planeta Terra na humilde manjedoura, não foi por acaso.
Foi o Pai que assim o determinou. Que o nascimento de Jesus, o espírito que viria trazer à humanidade o caminho de obter a paz, a saúde e a felicidade;
a humildade em que ele baixou neste planeta, a estrela que iluminou aquele estábulo, sirva para vós, iluminando vossos espíritos, retirando os escuros da maldade por pensamento, por ações;
que Deus perdoe tudo o que tiverdes feito ou as maldades que podeis haver pensado,
para que a paz possa reinar em vossos corações e nos vossos lares. Eu, meus irmãos, como o menor espírito, baixo à Terra, mas amigo de todos, e em nome dos espíritos
que me rodeiam neste momento, peço que eles sintam a necessidade de cada um de vós e que,
ao sairdes deste Templo de caridade, encontreis os caminhos abertos,
vossos enfermos curados e a saúde para sempre em vossa matéria.
Com o meu voto de paz, saúde e felicidade; com humildade, amor e caridade,
sou e serei sempre o humilde Caboclo das Sete Encruzilhadas.”

Atualmente, a Tenda Nossa Senhora da Piedade é dirigida por Lygia Maria Marinho da Cunha (neta de Zélio de Moraes, filha de Zilméa), apoiada por seus filhos (bisnetos de Zélio) Marcelo Cunha dos Santos e Leonardo Cunha dos Santos (que atualmente ocupa o cargo de Vice-Presidente da TENSP).

† Zélio Fernandino de Moraes desencarnou no dia 03 de Outubro de 1975, aos 84 anos de idade,
com o sentimento da missão brilhantemente cumprida.
A sua cerimônia fúnebre foi celebrada por Pai Ronaldo Linares, a pedido de seus familiares.

Em sua homenagem, em cada dia 15 de novembro (Lei 12.644, de 16 de maio de 2012),
a Umbanda é comemorada oficialmente em nossas terras brasileiras. 

Lá das regiões mais sublimes de Aruanda, Pai Zélio, certamente, nos assiste, nos ajuda, sorri
e se emociona, ao observar o grandioso exército branco de Oxalá que ajudou a construir,
com tanto amor e humildade, em nosso país.

Deixamos aqui o nosso sincero agradecimento a ele, aos seus Orixás e Falangeiros, aos seus familiares e a todos que, de alguma forma, o ajudaram nesta tão árdua, mas extremamente edificante, missão.

zelio coraçaoGratidão, Pai Zélio Fernandino de Moraes e Caboclo das Sete Encruzilhadas!